terça-feira, 22 de maio de 2012

Lula recebe título de Cidadão Paulistano e Medalha Anchieta

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, na noite desta segunda-feira (21), o título de Cidadão Paulistano e a Medalha Anchieta em sessão solene no plenário 1° de Maio da Câmara Municipal de São Paulo. A Medalha Anchieta acompanhou ainda o Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo.
Vereador Alfredinho, Lula e vereador José Américo. Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
As homenagens foram iniciativa dos vereadores Alfredinho e José Américo, ambos do PT. Em seu discurso de agradecimento, Lula disse ressaltou seu orgulho com a premiação e lembrou de tantos nordestinos que, como ele, fizeram a vida em São Paulo. 

“Recebo [o prêmio] como um carinho destinado a todos os nordestinos que vieram para São Paulo, que ajudaram a construir a cidade e nela encontraram oportunidades, e hoje são pais, avós e bisavós de paulistanos”.

Lula improvisou bastante e discursou durante 27 minutos. Leia abaixo a íntegra do discurso lido do ex-presidente:

Eu demorei treze dias para vencer a distância que separa Garanhuns, em Pernambuco, minha terra natal, do Estado de São Paulo. Eu tinha sete anos em mil novecentos e cinquenta e dois, quando subi num pau-de-arara com a minha mãe e meus irmãos para mudar de cidade, de Estado e de vida. 


Paramos em Santos.

Demorei mais quatro anos para chegar à cidade de São Paulo. Minha primeira moradia foi na rua Albino de Morais, na Vila Carioca.

Quando chegamos à Vila Carioca, éramos pobres. Ainda não tínhamos conseguido deixar a fome no passado. Fui engraxate, tintureiro, office-boy. Como tantos outros migrantes pobres que vieram para São Paulo, trabalhei desde menino e estudei a duras penas.

Ao Nordeste, devo um profundo entendimento do que é a pobreza, que trouxe como herança para São Paulo. A São Paulo, no entanto, devo o que sou. Aqui estudei. Aqui conquistei uma profissão, a de torneiro mecânico, depois de me formar no Senai do Ipiranga. Em 1962, participei pela primeira vez de uma greve, pelo décimo terceiro salário.

Meu primeiro casamento foi na igreja de Vila das Mercês. Comprei minha primeira casa no Parque Bristol.

Depois me estabeleci em São Bernardo, no ABC paulista, uma das cidades que encontra a capital e faz de São Paulo a grande metrópole que é. E lá comecei minha vida no movimento sindical, minha primeira atividade política de fato.

Lá me casei pela segunda vez, com a minha querida companheira Marisa. Mas São Paulo nunca deixou de ser parte de minha vida.

Em fevereiro de 1980, no Colégio Sion, na avenida Higienópolis, foi aprovado o texto definitivo do manifesto de fundação do Partido dos Trabalhadores.

Filiado ao PT, disputei eleições. Em aliança do PT com outros partidos, cheguei à Presidência da República em 2002, e fui reconduzido em 2006.

A sede nacional do PT fica no centro da capital, na rua Silveira Martins.

No Ipiranga está o Instituto Lula, onde dedico meus dias de ex-presidente a acompanhar a realidade brasileira, a formular projetos de integração com a África e a América Latina e a tarefas políticas de caráter nacional e internacional.

Foi no Vale do Anhangabaú, no dia 25 de janeiro de 1984, que mais de um milhão e meio de pessoas se reuniram numa gigantesca mobilização em favor da convocação de eleições diretas para presidente da República. As eleições diretas demoraram mais cinco anos, mas aquela manifestação no centro da capital paulista ajudou a fincar a estaca no coração da ditadura.

O regime militar se foi um ano depois, quando Tancredo Neves foi eleito pelo Colégio Eleitoral. Tancredo Neves faleceu antes da posse, e José Sarney assumiu como primeiro presidente civil do país depois de 21 anos.

Da capital paulista têm saído protagonistas das grandes disputas políticas nacionais. São Paulo também é isso.

A sua grande diversidade cultural e étnica, e a sua importância econômica e política, fizeram da cidade um caldeirão de ideias e posições políticas diferenciadas. Na capital paulista, as diferenças convivem também no campo político.

Eu faço parte de uma leva de imigrantes nordestinos que, a partir da década de 60, veio para cá e ajudou a transformar São Paulo na maior cidade brasileira e no principal polo econômico do país. Nós nos somamos a africanos, asiáticos, europeus e sul-americanos, e também a brasileiros vindos para cá de todas as regiões do país.

São Paulo, para nós que viemos de fora, não foi apenas uma oportunidade de crescer na vida. Foi uma chance de conviver com diferentes e ser parte de uma cidade que se tornou a síntese dos mais de 500 anos de vida do Brasil.

O paulistano de hoje pode ter um pai paulista, mas tem no seu passado avós, bisavós e tataravós pernambucanos, mineiros, baianos, portugueses, açorianos, italianos, africanos ou asiáticos. Pode andar o mundo circulando pelos bairros da capital e seus enclaves, e se deliciando com o que existe de melhor da culinária mundial.

Na última década, a cidade atrai contingentes de sul-americanos, particularmente paraguaios e bolivianos, que, como os nordestinos no passado, vêm atrás e precisam de oportunidades. Tenho certeza que São Paulo acolherá os irmãos sul-americanos com o carinho que eles merecem, e como receberam tantos outros estrangeiros e brasileiros que para aqui vieram.

Essa multidão de paulistanos com origem nos mais diversos lugares do país e do mundo, junto com os mais recentes imigrantes, tece uma cidade internacional que absorveu 39% dos investimentos estrangeiros realizados no Brasil no ano passado. Foi a quarta cidade do mundo que mais recebeu investimentos estrangeiros em 2011.

Seus mais de 12 milhões de habitantes constroem todo dia a sétima maior cidade do mundo, o principal centro financeiro da América Latina e o terceiro maior orçamento do País – atrás somente do Orçamento da União e do Estado de São Paulo.

Agradeço aos companheiros e amigos vereadores Alfredinho e José Américo, a iniciativa da concessão do título de cidadão honorário, da medalha Anchieta e do diploma de gratidão de São Paulo.

Agradeço a todos os vereadores que, com seus votos e carinho, aprovaram a iniciativa de Alfredinho e José Américo.

Estou muito honrado de ser um cidadão paulistano, como muito me honro de ter sido – e ser – parte dessa cidade em eterna construção, que abriga diferentes classes, raças, credos, culturas e nacionalidades.

Recebo com orgulho esse carinho da Câmara de Vereadores de São Paulo. E o recebo como um carinho destinado a todos os nordestinos que vieram para São Paulo, que ajudaram a construir a cidade e nela encontraram oportunidades, e hoje são pais, avós e bisavós de paulistanos.

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