Luís Guilherme Barrucho
Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu nesta quarta-feira, pela sétima vez consecutiva, a taxa básica de juros, a Selic, de 9% para 8,5% ao ano, o menor patamar da série histórica iniciada em 1986.
O mínimo anterior havia sido atingido entre julho de 2009 e abril de 2010, quando a taxa se situava a 8,75% ao ano.
O corte de 0,5 ponto percentual na Selic já era dado como certo por grande parte do mercado financeiro.
Na primeira reunião em que o voto de cada integrante passou a ser divulgado desde a criação do Copom em 1996, os diretores do BC afirmaram que a nova rodada de redução de juros foi motivada, sobretudo, pela desaceleração da economia. Segundo as últimas estimativas do mercado, o PIB deve crescer menos de 3% em 2012.
A divulgação inédita do nome de cada economista e seu respectivo voto ocorre após a promulgação da Lei de Acesso à Informação. Nas 166 reuniões ocorridas até agora, o BC divulgava apenas o "placar" da votação, sem qualquer referência nominal, para evitar pressões sobre seus economistas.
Com a queda dos juros, o governo espera incentivar o consumo e, assim, retomar a atividade econômica, em queda, entre outros fatores, pelo mau desempenho da indústria e o agravamento da crise internacional.
O ciclo de redução dos juros começou em agosto do ano passado. Na ocasião, a taxa era de 12,5% ao ano.
Poupança
Com a queda da Selic, também passa a valer, a partir de agora, a nova base de cálculo da caderneta de poupança exclusivamente para aplicações feitas a partir de 4 de maio.
Pelas regras já anunciadas pelo governo, com a Selic igual ou inferior a 8,5% ao ano, o poupador será remunerado pela Taxa Referencial (TR) acrescida de 70% da Selic.
Neste caso, com a taxa a 8,5% ao ano, a remuneração da poupança será calculada pela TR acrescida de 5,95% ao ano, contra os 6,17% anteriores.
Em maio passado, as regras da poupança foram alteradas, de acordo com o governo, para permitir uma maior queda da taxa de juros, uma vez que, pelas condições antigas, havia o temor de uma forte debandada dos investidores para a caderneta, mais atrativa até então.
Crescimento
Com os juros mais baixos, o governo espera abrir espaço para uma retomada da economia, principalmente pelo lado do consumo. O crédito mais barato tende a compensar, ao menos em parte, os efeitos nocivos do agravamento da crise internacional.
Nos últimos dias, a cotação do dólar subiu e o BC teve de intervir para segurar uma valorização acentuada da moeda americana. A flutuação brusca do câmbio já é apontada como um dos efeitos da crise internacional.
A deterioração do cenário econômico na Europa e a desaceleração da China, que reduz o volume das exportações de commodities brasileiras, também preocupam.
Segundo o boletim Focus divulgado pelo BC na última segunda-feira, os agentes do mercado financeiro revisaram para baixo o crescimento da economia neste ano, de 3,09% para 2,99%.
Já o governo, que esperava inicialmente uma elevação de 4,5% para o PIB em 2012 e havia reduzido suas expectativas para 4%, agora acredita em um crescimento entre 3% e 4%.